Rio - Apesar de ser um segmento em franca expansão, o comércio pela internet
ainda é um terreno inexplorado pela maioria dos brasileiros. Uma pesquisa
encomendada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) mostra que 74% dos
entrevistados nunca fizeram uma compra eletrônica.
O percentual varia conforme fatores como idade e renda: os mais
jovens e mais ricos são mais familiarizados com a rede. Entre os entrevistados
com idade entre 16 e 24 anos, 65% nunca fizeram compras online. Na faixa etária
acima de 55 anos, o percentual sobe para 87%.
No quesito renda, famílias com ganhos acima de cinco salários
mínimos são mais adeptas da prática, sendo que pelo menos 53% já compraram
online. Entre as famílias que ganham até um salário mínimo, o percentual de
pessoas que usaram a internet para consumir é de apenas 14%.
Os dados não surpreendem o presidente da Associação Brasileira de Comércio
Eletrônico (ABComm), Maurício Salvador. Ele afirma que os principais entraves
para a disseminação do comércio eletrônico são logísticos: o primeiro diz
respeito ao próprio acesso. “Quase metade dos brasileiros ainda não tem acesso à
internet. Entre os que têm, muita gente ainda possui internet de baixa
qualidade, com navegação lenta que acaba prejudicando a experiência da compra
online”, afirma.
Outro gargalo diz respeito à distribuição dos produtos, que ainda é muito
cara devido a problemas com a malha rodoviária e o alto custo do combustível. “O
custo do frete é muito elevado porque a malha rodoviária é ruim, o custo do
combustível é alto e tem o problema de segurança, que encarece o seguro do
frete”, diz.
Entre os participantes da pesquisa, 11% apontaram a demora na entrega como
uma das maiores desvantagens da compra eletrônica.Outros 11% citaram as
dificuldades para devolver e trocar produtos e 15% acreditam que a falta de
contato com o produto é uma desvantagem desta modalidade de compra.
No que diz respeito às vantagens, o preço mais em conta foi citado como um
fator positivo por 21% dos entrevistados, seguido pela praticidade, mencionada
por 19% dos participantes.
O geofísico Yan Borges, 25 anos, que costuma fazer compras online uma vez por
mês, confirma que os preços costumam ser melhores em lojas virtuais. “Sempre
comparo e percebo que há bastante diferença”, diz ele, que acabou de adquirir
uma chuteira pela internet.
Pelo fato de não ter experimentado o calçado, Borges acabou recebendo o
produto em um tamanho menor: “Isso é um risco, mas a empresa ofereceu a troca de
graça e foi tudo bem rápido.”
A analista de marketing Larissa Moura, de 28 anos, já teve dificuldades para
trocar produtos e afirma que as empresas ainda precisam desenvolver o setor de
pós-venda. “Você tem que ficar ligando para a central de atendimento, esperar na
linha, não é sempre a mesma pessoa que te atende. É sempre uma novela”, reclama.
Ainda assim, acredita que compensa recorrer às lojas virtuais em vez das
físicas. “Vale a pena pela praticidade, preço e não ter um vendedor empurrando
outras coisas” diz ela, que é adepta das compras online para adquirir roupas,
livros, calçados e até artigos de pet shops.
Alto potencial de crescimento
Para Maurício Salvador, presidente da Abcomm, a pesquisa mostra que o
e-commerce ainda é um nicho com grande potencial no Brasil. Prova disso foi o
crescimento expressivo em 2014. Enquanto o varejo físico amargou queda nas
vendas, os negócios na internet cresceram 27%, faturando R$ 39,5 bilhões no
ano.
Mesmo com a economia desaquecida, a previsão para 2015 é de manutenção do
crescimento, com faturamento de R$ 49,8 bilhões. “A gente prevê que quatro
milhões de consumidores vão comprar pela internet pela primeira vez em 2015.
Isso traz um oxigênio forte para o setor”, assegura.
Segundo Salvador, apesar das grandes redes ainda dominarem as vendas na
internet, o e-commerce é uma boa plataforma para pequenos e médios
empreendedores. “As grandes empresas vem perdendo participação para este tipo de
empreendedor”, diz, afirmando que o comércio eletrônico pode ser uma porta de
entrada até mesmo para quem quer se estabelecer no mercado físico. “A internet
tem um custo menor, é boa para testar o produto e formar uma base de clientes”,
afirma.
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